
6 março, 2025
Fósforo - um nutriente essencial na nutrição vegetal
O fósforo é extremamente importante na nutrição vegetal, responsável por inúmeros processos dentro as plantas. Porém, sua interação com o solo é complexa.
Energia na forma de ATP, uma interação muito grande com a argila e solos pobre desse nutriente. O fósforo tem uma interação complexa no solo. Como isso ocorre? Posso exagerar na fosfatagem? Muito fósforo também é problema? O que a ciência diz a respeito? Tudo isso e muito mais, você encontra nesse texto aqui a baixo!
O fósforo (P) faz parte dos três principais macronutrientes essências para nutrição vegetal, juntamente com nitrogênio e potássio. Dentre os três, geralmente, é o elemento requerido em menores quantidades. Está presente nas moléculas de ATP e ADP, responsáveis pela geração de energia e também tem participação nas partes estruturais das células.
Apesar de sua grande importância para fisiologia vegetal, os solos brasileiros são deficientes em fósforo, por isso, nem sempre as demandas são atendidas com as quantidades necessárias para o pleno desenvolvimento vegetal. O principal empecilho está relacionado ao comportamento químico deste elemento no solo, pelo fato da grande capacidade de adsorção pelos coloides, indisponibilizando-o para as plantas. Outro problema é que por ser um elemento de mobilidade baixa no solo, torna-se difícil leva-lo para camadas horizontais e verticais, limitando sua absorção a onde ele se encontra.
A absorção do P é dependente de alguns fatores de solo como: mineralogia, pH, quantidade de argilas, teores de alumínio (Al3+) e ferro (Fe3+) e presença de microrganismos, como os fungos micorrízicos. As plantas absorvem o fósforo na forma de H2PO4- em solos ácidos e em solos básicos na forma de HPO42-.
O P pode se adsorver nos coloides do solo que tem carga positiva, com os óxidos de Fe e Al, porém esta ligação (iônica) pode ser quebrada através da correção de solo, devolvendo o P a solução. Por outro lado, pode ocorrer a precipitação e formação de minerais secundários, formando fosfato de ferro ou alumínio ou cálcio, fixando o P e tornando-o indisponível as plantas. Esta ligação, por ser covalente, é muito mais difícil de ser quebrada. Neste caso, microrganismo solubilizadores de fósforo auxiliam na quebra desta ligação, retornando o P a solução.
Devido a essa química, deveras complexa do fósforo com o solo, produtores tem adotado superdosagens de fósforo, a fim de compensar as perdas por adsorção. Porém, ao exagerar nas doses, a adsorção aumenta e mais indisponível o elemento fica, principalmente em solos com altos teores de argila. Ao atingirmos os níveis críticos, é preciso realizar a reposição deste nutriente conforme a extração da cultura.
Para a agricultura brasileira, os fertilizantes como fonte de fósforo são: fosfatos totalmente acidulados (super simples e super triplo), fosfatos de amônio (MAP e DAP), termofosfatos e os fosfatos naturais importados e nacionais. O que muda são as composições químicas das rochas de origem, processos fabris, tempo de reatividade, solubilidade e preço final.
Fosfatos mais solúveis, tem maior resposta a curto prazo, porém, custos mais elevados. Já os fosfatos naturais são menos eficientes inicialmente, todavia, os custos são menores. A fontes mais reativas podem ser convertidas ligeiramente em formas menos disponíveis as plantas. Se torna interessante a utilização de adubos que contém fontes diversificadas de fósforo, com fornecimento a curto, médio e longo prazo, atendendo assim, a demanda das culturas durante todo o ciclo. Os ferticorretivos são uma opção para os agricultores, pois contem diferentes fontes de fósforo, além de liberar hidroxilas no solo, as quais criam um microambiente extremamente favorável para absorção de fósforo.
Práticas conservacionistas como plantio direto, revolvimento mínimo do solo, plantas de cobertura e microrganismo benéficos, são essenciais para o melhor aproveitamento do fósforo. A decomposição das plantas de cobertura influencia beneficamente a liberação do P retido, pois a matéria orgânica libera compostos que competem com o fósforo na ligação com óxidos de ferro e alumínio. Estes compostos de sobressaem nesta ligação, liberando o P.
Os estudos de Rheinheimer et al. (2003), Villarreal Núñez et al. (2003), Partelli et al. (2009), Tiecher et al. (2012), Wright (2009) e Green et al. (2006) apontam que práticas de manejo conservacionistas influenciam positivamente a disponibilidade e retenção de fósforo (P) no solo. Rheinheimer et al. (2003) constataram que a dessorção de P foi maior no plantio direto em diferentes camadas do solo, independentemente da sua textura. Villarreal Núñez et al. (2003) observaram que o P lábil foi superior em sistemas de cultivo mínimo, enquanto Partelli et al. (2009) e Tiecher et al. (2012) destacaram que a redução do revolvimento do solo favorece a maior participação dos componentes orgânicos de P. Complementando estes trabalhos, Wright (2009) e Green et al. (2006) verificaram que o fósforo, principalmente em formas orgânicas, se acumula mais nos macro agregados do solo, especialmente em manejos conservacionistas com manutenção de resíduos na superfície.
Nos estudos de Casali (2012) e Tiecher et al. (2012), foi avaliada a concentração e disponibilidade de fósforo (P) em diferentes culturas de cobertura submetidas aos sistemas de plantio direto e convencional. Casali (2012) observou que o plantio direto apresentou valores superiores de fósforo em todas as espécies analisadas, com destaque para centeio e ervilhaca, que tiveram as maiores concentrações em comparação a trigo, aveia, nabo forrageiro e tremoço. De forma semelhante, Tiecher et al. (2012) verificou que a disponibilidade de P na camada superficial do solo (0-5 cm) foi maior no plantio direto, sendo que tremoço azul e aveia apresentaram os maiores valores, superando nabo forrageiro, ervilhaca, trigo e pousio. Ambos os estudos evidenciam que o plantio direto e as plantas de cobertura favorecem a ciclagem e a manutenção do fósforo no solo, contribuindo para a fertilidade e sustentabilidade agrícola.
A vida microbiológica do solo desempenha um papel fundamental na absorção de fósforo (P) pelas plantas, especialmente por meio de interações simbióticas. As micorrizas arbusculares, ao expandirem o sistema radicular com suas hifas, aumentam a exploração do solo, favorecendo a solubilização absorção de P, água e outros nutrientes. No estudo de Lima (2020), foi observado que solos com alta fixação de P reduziram a massa seca e o conteúdo de P nas plantas de braquiária, mas a absorção por hifas micorrízicas compensou parcialmente essa limitação. Oliveira (2017) verificou que a inoculação de fungos micorrízicos em cultivares de cana-de-açúcar aumentou a produtividade e melhorou atributos químicos de qualidade.
A simbiose entre fungos e plantas traz benefícios mútuos, sendo influenciada por fatores como espécie fúngica, tipo de planta, disponibilidade de nutrientes e condições ambientais. Além dos fungos, bactérias solubilizadoras de fósforo também contribuem para sua disponibilidade, como demonstrado por Almeida et al. (2017), que observou aumento da produtividade com inoculação bacteriana, mesmo utilizando doses reduzidas de P. Esses estudos destacam a importância da parte biológica do solo no fornecimento de fósforo, muitas vezes mais viável economicamente do que a adição de fertilizantes.
Os fungos micorrízicos podem ser afetados pela dose de fósforo, tendo em vista que doses excessivas de fósforo dificultam o estabelecimento da simbiose fungo/planta. Isto leva a concluir que se pode economizar recursos financeiros que seriam destinados a adubação fosfatada, beneficiando os fungos micorrízicos que já estão presentes no solo ou ainda, com possibilidade rentável de inoculação.
CONCLUSÃO
O fósforo e sua dinâmica no solo são complexos e dependente de muitos fatores. Doses elevadas de fósforo não refletem em maior absorção ou benefícios, podendo ser prejudicial ao sistema. A utilização de adubos com diferentes fontes de P é uma opção vantajosa para o produtor rural. Práticas de manejo conservacionistas como plantio direto e plantas de cobertura são sinérgicos ao uso do fósforo. Os aspectos químicos, físicos e biológicos influenciam e são influenciados pela adição ou falta de fósforo.
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