Altas doses de potássio, quais as consequências ?
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25 fevereiro, 2025

Altas doses de potássio, quais as consequências ?

Você sabia que altas doses de potássio podem ser prejudiciais? Especialmente quando usamos o cloreto de potássio como fonte. Atenção redobrada para soja!


A busca constante por maiores produtividades tem levado muitos produtores a adotar práticas que nem sempre resultam nos benefícios esperados. Entre essas práticas, a adubação excessiva com potássio, particularmente na forma de cloreto de potássio (KCl), tem gerado preocupações no manejo da soja. Apesar de o potássio ser um nutriente essencial para o desenvolvimento da planta, seu uso descontrolado pode causar sérios impactos no solo, na microbiota e na fisiologia vegetal, reduzindo a produtividade.


 

O Papel do Potássio na Cultura da Soja

O potássio é o segundo macronutriente mais requerido pela soja, ficando atrás apenas do nitrogênio. Ele desempenha funções essenciais no metabolismo da planta, como a regulação da fotossíntese, transporte de carboidratos, ativação enzimática e resistência a estresses abióticos. No caso da soja, o potássio está diretamente ligado à formação de vagens, tamanho e qualidade dos grãos, além da eficiência no uso da água.

No nível fisiológico, o potássio regula a abertura e fechamento dos estômatos, controlando a transpiração e o balanço hídrico da planta. Esse mecanismo é essencial para evitar o estresse hídrico, pois permite que a planta maximize o uso da água do solo de forma eficiente. Contudo, quando o potássio é aplicado em excesso, esse equilíbrio pode ser comprometido, aumentando a perda de água por transpiração e deixando a planta mais vulnerável, especialmente em momentos de seca.

Macro shot of mixed chemical

Impactos da Superadubação Potássica 

Apesar da importância do potássio, seu uso excessivo pode resultar em diversos problemas para a lavoura. Entre os principais problemas da superadubação com KCl, destacam-se:

1. Salinização do Solo

Dentre os adubos utilizados na agricultura, o cloreto de potássio contem o maior índice salino, por isso é preciso atenção! Doses excessivas de KCl podem elevar a salinidade do solo, o que dificulta a germinação das sementes e prejudica o desenvolvimento inicial das plântulas. Isso ocorre porque o excesso de sais reduz o potencial osmótico do solo, tornando a absorção de água pelas sementes mais difícil. Como resultado, há falhas na emergência e desuniformidade na lavoura, o que compromete o rendimento da lavoura.  Salton, J.C et al (2002) mostram exatamente isto em seu trabalho ao utilizaram diferentes doses de K2O, sendo elas 0, 30, 60, 90, 120 e 150. Dentre essas doses, é possível observar na imagem que a a planta destaque foi a que recebeu 30kg e que quanto mais aumentou a dose, pior ficou a qualidade das plantas. É possível perceber também que ao não utilizarmos adubo, a planta teve um excelente desenvolvimento de parte radicular e parte aérea. Levando a reflexão que a Ferticorreção preza: altas doses nem sempre são a solução! É possível produzir mais, com menos!

 

2. Desequilíbrio Nutricional

Outro efeito negativo é o desequilíbrio nutricional causado pela competição do potássio com outros nutrientes essenciais, como o cálcio (Ca) e o magnésio (Mg). Quando há um excesso de K no solo, a absorção de Ca e Mg pelas plantas é reduzida, afetando o crescimento radicular e a qualidade dos grãos. O cálcio é fundamental para a estrutura celular, enquanto o magnésio é essencial para a síntese de clorofila e o metabolismo energético da planta.

3. Lixiviação e Perda de Nutrientes

O potássio pode ser relativamente móvel no solo, principalmente em solos arenosos ou em regiões de alta precipitação. A lixiviação ocorre quando o excesso de K aplicado no solo não é absorvido pelas plantas e é levado para camadas mais profundas do solo, tornando-se inacessível para as raízes. Isso reduz a eficiência do fertilizante e aumenta os custos de produção, pois o produtor precisará aplicar mais fertilizante para compensar as perdas.

4. Impactos na Microbiota do Solo

O excesso de KCl também tem efeitos negativos sobre a microbiota do solo, afetando microrganismos benéficos responsáveis pela ciclagem de nutrientes e pela fixação biológica de nitrogênio (FBN). Bactérias do gênero Bradyrhizobium, fundamentais para a fixação do nitrogênio na soja, podem ter seu crescimento inibido pelo excesso de potássio, prejudicando a nutrição da planta e reduzindo sua capacidade produtiva.

Além disso, o aumento da salinidade favorece microrganismos tolerantes a condições adversas, que nem sempre são benéficos para a rizosfera da soja. Fungos micorrízicos, que desempenham um papel crucial na absorção de nutrientes e na solubilização de fósforo, também podem ser prejudicados pelo excesso de KCl.

Recomendações para um Manejo Sustentável

Entre as práticas para um manejo equilibrado do potássio, destacam-se:

  • Adubação Fracionada: Em vez de aplicar todo o potássio de uma vez, a divisão da dose em duas etapas (uma parte no sulco de plantio e outra a lanço) melhora a absorção e reduz riscos de lixiviação.
  • Limites de Aplicação: Estudos recomendam evitar doses superiores a 80 kg/ha na linha de plantio, pois quantidades acima desse limite podem causar salinização e aumentar perdas.
  • Uso de Fontes Alternativas: Sempre que possível, utilizar outras fontes de potássio além do KCl, como sulfato de potássio (K2SO4), que tem menor impacto na salinidade do solo.

 

Conclui-se que a adubação excessiva com cloreto de potássio pode causar impactos negativos no solo e, consequentemente, nas plantas. Quando se utiliza as fontes certas, nas doses certas e no momento certo, a lavoura tem condições de expressar o seu máximo potencial produtivo. 

 

REFERÊNCIAS

BERNARDI, A. C. C.; OLIVEIRA JÚNIOR, J. P.; LEANDRO, W. M.; MESQUITA, T. A.; FREITAS, P. L.; CARVALHO, M. D. Doses e formas de aplicação da adubação potássica na rotação soja, milheto e algodão em sistema plantio direto. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 39, n. 2, p. 158-167, 2009.

PALHANO. J. B. ADUBAÇÃO FOSFATADA E POTÃSSICA EM CULTURA DE SOJA NO ESTADO DO PARANÁ. EMBRAPA, Brasília, 18(4): 357-362, abr. 1983.

SALTON, C. S et al. Cloreto de potássio na linha de Semeadura Pode Causar Danos a Soja. EMBRAPA, Dourados. Comunicado técnico 64. INSS 1679-0472. 2002

VELOSO. C. A. C et al. Adubação fosfatada e potássica na cultura da soja em Latossolo Amarelo do Estado do Pará. Belém – Pará. 2007.

 

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