Nitrogênio na soja, aplicar ou não?

A soja (Glycine max) é de grande importância para a alimentação humana e animal, além de desempenhar um papel relevante na economia global. Para uma produtividade satisfatória, é necessário aportar todos os nutrientes exigidos pela cultura, bem como realizar os tratos culturais durante a safra.  Dentre os nutrientes necessários, destaca-se o nitrogênio, pois é o mais requerido pela soja. Para produzir 1 tonelada de grãos, são necessários 80kg de N.

Muito se tem discutido no meio agronômico sobre a aplicação de fontes nitrogenadas na cultura da soja. Especialmente pequenas quantidades para o arranque inicial da cultura.

Afinal, precisa aplicar N na soja? Não.

Não precisa aplicar N na soja, pois ela faz fixação biológica do nitrogênio (FBN).  A FBN é o processo de conversão do nitrogênio atmosférico (N₂) em formas assimiláveis pelas plantas. Bactérias do gênero Braddyrhizobium são responsáveis por realizar esse processo, em troca de oxigênio e alguns produtos oriundos da fotossíntese.

Logo na germinação, a soja exsuda compostos químicos pelas raízes que atraem as bactérias, sinalizando o início do processo. Em seguida, as bactérias penetram nas raízes e promovem o crescimento dos nódulos. A partir desse momento, bactérias e plantas começam uma relação de troca, benéfica para ambas. 

Estudos da EMBRAPA afirmam que “fertilizantes nitrogenados prejudicam a FBN do N₂ e, mesmo uma dose inicial, não traz benefícios ao rendimento de grãos’’. A instituição ainda defende que “a adubação nitrogenada da cultura da soja, no plantio, no florescimento ou no enchimento dos grãos é desnecessária e, portanto, não é recomendada”.

E qual o custo disso?

Para planta, é necessário investir um pequeno valor energético, porém altamente rentável no balanço final do nitrogênio. E para o produtor rural, o custo em inocular essas bactérias é muito mais baixo do que utilizar adubos nitrogenados. A FBN gerou uma economia de mais de 12 bilhões de dólares na cultura da soja na safra 2019/2020, evitando o uso de fontes nitrogenadas. Já na safra 2018/2019, obteve-se um lucro de 914 bilhões de dólares com os ganhos de produtividade proporcionados pela inoculação.

Inclusive, a adição de nitrogênio na soja pode desbalancear o sistema. Interferindo negativamente na fixação biológica do nitrogênio, gerando produtividades menores. Além disso, essa prática pode causar danos ambientais, pois a fabricação, transporte, aplicação, lixiviação e volatilização do nitrogênio impactam negativamente o meio ambiente. Na safra 2019/2020, com o uso da inoculação, evitou-se a emissão de 183 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, o que representa 5 bilhões de euros em crédito de carbono.

É necessária realizar a inoculação no primeiro ano de plantio e a reinoculação das bactérias nas safras seguintes, já que não há rizóbios nativos no solo. As questões químicas, físicas e biológicas do solo podem interferir no sucesso da inoculação, por isso deve se estar atento em todas as etapas do processo.

E se fornecermos N através de adubos, não é mais fácil para planta?

Sim, para planta, é energeticamente mais ‘’barato e fácil” metabolizar o N fornecido pelos adubos químicos, do que formar essa parceria com as bactérias. No entanto, a longo prazo, o N oriundo dos fertilizantes é perdido por lixiviação e volatilização, diferente dos nódulos, que continuam fornecendo N até o final do seu ciclo. 

Portanto, aproveitar os recursos naturais, fontes mais baratas e ecológicas, é muito mais vantajoso para o produtor. Não há necessidade de investir em adubos nitrogenados na cultura da soja. O diferencial do produtor consciente é reconhecer oportunidades de poupar recursos e utilizar métodos eficientes para aumentar os rendimentos, promovendo um futuro mais sustentável. 

HUNGRIA, M.; CAMPO, R.J.; MENDES, I.C. A fixação biológica do nitrogênio na cultura da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2001. (Embrapa Soja. Circular Técnica). No prelo.

CRISPINO, C.C. et al. Adubação nitrogenada na cultura da soja. Londrina: EMBRAPA Soja, 2001. (Embrapa Soja. Comunicado técnico, 75)

TELLES. T. S.; NOGUEIRA. M.A.; HUNGRIA. M. Economic value of biological nitrogen fixation in soybean crops in Brazil. Environmental Technology & Innovation, Londrina. Volume 31, 2023,103158, ISSN 2352-1864